...durante a noite acordei com tempo fresco, frio o bastante para chá quente e moletom. Acordei para alimentar nosso filhote de passarinho. Ontem, sentindo em mim uma estranha histeria sufocante - em parte, creio, por não escrever prosa - contos, meu romance - saí para dar uma volta com Ted, apesar do ambiente denso e úmido. Ele parou sob uma árvore, na rua. Ali, no chão, virado de costas, estendendo as asas magrinhas num esforço desesperado, havia um filhote de passarinho, caíra do ninho e sofria convulsões que pareciam espasmos de moribundo. Fiquei impressionada com seu sofrimento, revoltada. Ted o levou para casa, aninhado nas mãos em concha, enquanto o passarinho nos espiava com seus olhos negros brilhantes. Forramos uma caixa de papelão com um pano de prato e pedaços de papel macio, para tentar imitar um ninho, e o colocamos lá dentro.
O passarinho tremia sem parar. Parecia desequilibrado, naquela posição, de costas. A todo momento esperávamos que seu peitinho magro parasse de arfar. Mas isso não aconteceu. Tentei alimentá-lo com pão molhado no leite, usando um palito de dentes, mas cuspiu tudo, não engoliu. Depois fomos ao centro e compramos carne moída na hora, parecia um monte de minhocas, pensei. Quando subimos a escada o passarinho piou de dar dó e abriu o bico amarelo o mais que pôde, de tal modo que nem se via a cabeça por trás da goela escancarada. Sem hesitar, coloquei um pedaço de carne razoável na boca do passarinho. O bico se fechou em meu dedo, a língua parecia querer sugar meu dedo e a boca abriu-se novamente, vazia. Alimentei-o animadamente, com carne e pão e ele comia com frequência e apetite, dormindo nos intervalos de duas horas entre uma refeição e outra e parecia melhorar a cada momento, comportando-se como um passarinho normal. Mesmo diminuto, era uma manifestação da vida, da sensibilidade e da identidade. Quando eu estiver pronta para ter um filho, será maravilhoso. Mas só no momento certo.
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Sylvia Plath, Os Diários...