Oito meses já. Oito meses e onze dias e, se olhar para o relógio, digo-te o número das horas: oito meses, onze dias e dezoito horas. Tu no patamar, com duas malas, a carregares no botão do elevador que chegou num instante para mim e demorou eternidades para ti pelo modo como batias a ponta do sapato no chão e eu no capacho a ver-te, demasiado cheio de palavras para conseguir falar. Depois o elevador parou, abriste a porta, empurraste as malas para dentro e foste-te embora sem olhar. O perfume aguentou-se um bocado por ali. Quando deixei de o sentir fechei a porta. Passada uma semana desapareceu do apartamento também. Sobrou metade de um brinco numa gaveta. Plástico e arame com uma conchinha na ponta. Fui buscar um martelo e acabou-se o brinco. O problema foi a mossa que deixei na cómoda.
Estou sentada numa esplanada cheia de medo que o dia termine. Assusta-me voltar para uma casa onde já não há cheiros. O incenso, o jantar, a garrafa de vinho aberta, um som de jazz, a tua voz. Uma casa habitada por outros que já não somos nós. Não podemos ser. Nós partimos para mais uma viagem, arrastando as malas para o carro de manhã cedo com sorrisos cúmplices. Prefiro imaginar-nos assim. Eternizar-nos assim. A dor de te saber de olhos postos num futuro que não me inclui, é demasiado física, avassaladora. Pesa tanto como o silêncio negro à volta dum vulcão.
Oito meses, imagine-se. Apetece-te um dos iogurtes fora de prazo no frigorífico? Ninguém consegue ligar a torradeira. Há fatias de pão que continuam entaladas no interior do mecanismo, invisíveis, excepto um cogumelozinho de bolor que surge de vez em quando do metal amolgado. Para a semana, quando a minha mãe me vier visitar, não vai encontrar-me: estarei no interior da torradeira como as fatias de pão. Quando muito hão-de ver o cogumelo de bolor de uma lágrima a surgir do metal amolgado.
Textos meus e de António Lobo Antunes
Fotos: Nick Knight
Uma explosão, tão forte quanto um tiro ou um duelo. Eterno, impactante e belo rodeado pelo vazio. Entre tuas palavras e as de Lobo Antunes, consigo te ver, querida Loli.
ResponderExcluirFiquei tomado pela tensão que permeia todo o post. Não consegui distinguir (e isso é um tremendo mérito do texto) se essa tensão era pré ou pós explosão.
ResponderExcluirOlá querido seguidor,
ResponderExcluirComunico que o Blog da Michele mudou de nome e caminho. Com pseudônimo registrado para assegurar meus direitos autorais em relação a textos pessoais o nome e caminho do Blog agora:
Michele Santti
http://michelesantti.blogspot.com/
Igualmente o Twitter
@MicheleSantti
e FaceBook
facebook.com/michele.santti
Nossa!Fantástico...
ResponderExcluirUau, impactante. Lindo e impactante.
ResponderExcluirAntónio Lobo Antunes dispensa comentários. Você também, Loli.
...traigo
ResponderExcluirsangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
COMPARTIENDO ILUSION
LOLIPOP
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE TOQUE DE CANELA ,STAR WARS, CARROS DE FUEGO, MEMORIAS DE AFRICA , CHAPLIN MONOCULO NOMBRE DE LA ROSA, ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER ,CHOCOLATE Y CREPUSCULO 1 Y2.
José
Ramón...
Achei o blog incrivelmente interessante, estou seguindo. Me agradei muito com o modo em que você coloca as cenas, consegui imaginar a ida da pessoa, o perfume desaparecendo, o sentimento de perda, os meses se passando. Adorei!!
ResponderExcluirGostei muito do post e do blog!
ResponderExcluirParabéns, ^^
Nossa, impactante mesmo, ainda mais pelo fato de logo após a leitura ouvir sobre a Amy. O rastro do perfume sempre fica na memória...e dói..
ResponderExcluirLindo querida Loli!!