Arte: © Gabriel Pacheco
Indecisa. Achei que tivesse virado um fantasma nas últimas semanas. Tinha medo de fechar os olhos e não te encontrar mais. Passei a noite em claro acendendo e apagando a luz do abajur, vendo a caneta se virar de um lado para o outro com simulada displicência. Sobre a escrivaninha, uma fila de rabiscos que dobravam os quarteirões, tentando decifrar um fio de voz que parecia vindo de uma cisterna abissal. Como é difícil calar a voz de dentro. Mas não consigo me arrepender das decisões que tomei em relação ao amor. Elas me levaram até você. Às vezes fico tateando o escuro, à procura de palavras que se derramam pelos cantos da boca como uma nascente de cobre líquido. Não existem. Tenho medo de me calar e as palavras acabarem morrendo em meus lábios, esfarinhando-se em sopros de sombra inclinados. Há paixões que honram quem as inspira. Quando voltar, a gente podia se ver no mar. Naquele tom azul celeste que você tanto gosta. Mergulho no passado, recordando-me do naufrágio de nossas vidas. Nado contra a maré, que me leva insistentemente para o lugar onde havíamos estado. Naquele mesmo mar de esperanças que refluem dia após dia, afastando-nos do ponto final. O coração é a única coisa que nos une. Cada batida é uma martelada surda que lança nos ares uma poeira reluzente de lapidação de esmeraldas. E para onde quer que eu vá o pó colorido das boas lembranças que conservo de nós dois, rebrilha. Vou indo, amor. Preciso terminar a sua estátua. Não quero acordar amanhã e pensar em você como se nunca tivesse existido. Vou imortalizá-lo em mim para que nada mais possa nos separar. Esta ausência é só um pesadelo amor, vou estar aqui quando você acordar. Tem dias, que meus olhos escurecem como se não tivessem fundo. Dói. Mas recobro a serenidade e descubro que dor é a única certeza de que este amor ainda está vivo. E nós, só estamos aqui para possibilitar.
P.S.: Eu te amo, amor. Em agosto, te amarei ainda mais.
Para sempre,
Imaginem uma forma de expressão artística baseada na palavra, essa é a Pipa, de fato seus versos são fortes, vibrantes, e controem o clima
ResponderExcluirde encantamento poético.
Na vida da Pipa a paixão quis sangue e corações partidos. E desde então viaja pela galáxia de mochila nas costas e seu Toráh.
Leo Macedo,
ResponderExcluirVocê acabou de fazer um talhe na madeira cinzelada de minha memória. Uma nuvem vermelho - escarlate está se espalhando como sangue derramado pela testa. O bisturi-palavra me recorda. A tarde está se esvaindo em lágrimas. Turvas, escuras e supersticiosas.
De companheiros, o pássaro azul-marinho para quem dediquei este texto, hoje é apenas um estrangeiro.
Permita-me abaixar os olhos Leo. É que um mar de sentimentos corre-me por dentro. Jorro de águas salgadas. Ondas sucessivas. Peso. Afogamento.
Um abraço emocionado.
Nunca li um texto tão profundo. E de certo modo, lembrou-me alguns de meus dias
ResponderExcluirBeijos
Maya Quaresma
http://www.sobaluzdalua.blogspot.com/
Que texto maravilhoso! Tão intenso e suave!
ResponderExcluir"Quando voltar, a gente podia se ver no mar. Naquele tom azul celeste que você tanto gosta."
A gente bem que podia.
Amei imensamente!
um beeijo*
Os agostos são propícios para o AMOR>
ResponderExcluirQue delícia de texto! Adorei!
Abraços
Oi, achei lindo esse blog aqui.
ResponderExcluirBelas palavras Lidia.
Beijo a todos,lindo resto de semana!
Bem vinda ao Femino, Pipa!
ResponderExcluirBendito Leo que nos brinda com tuas palavras.
Palavras que vão além do dizível e tocam o inexplicável. O amor, ao seu modo, é tomado por elas.
Beijos!
Um texto magnífico trazido pelo Leo, alguém que conheço(çi) e de quem conheço os talentos, pela autora apaixonei-me agora.
ResponderExcluirBeijinho e saudades a muitos de vós.
Lindo!
ResponderExcluirE em outubro?
ResponderExcluir=/
Imensamente verdadeiro. O amor que transforma o mundo! Beijo ***
ResponderExcluirE em junho?
ResponderExcluir